A MORTE E A MORTE DE QUINCAS BERRO D'ÁGUA (1960) - Jorge Amado

Que Jorge Amado (1912-2001) é genial,

isso todo o mundo sabe (sem exagero), até quem não lê, conhece suas histórias através de adaptações cinematográficas e telenovelas, além de ser um dos autores brasileiros mais traduzidos e lidos no mundo todo. O escritor baiano gosta de ambientar suas obras em seu estado natal e principalmente discutir e criticar questões, não só de sua época mas temas que até hoje, drogas, prostituição, trabalho infantil.

No caso de “A morte e a morte de Quincas Berro D'água”, publicado originalmente em 1959, na revista Senhor, o título já é uma inquietação por si só, como uma pessoa pode vir a morrer duas vezes, será mesmo que isso só faz parte da ficção?

Em sua obra, Amado nos apresenta a figura do respeitável Joaquim Soares da Cunha, que durante boa parte da vida se dedicou a família e a sua carreira de funcionário exemplar da Mesa de Rendas Estadual da Bahia, que em determinado momento simplesmente cansa de sua vida, então resolve tomar uma decisão: rompe com a família e as convenções sociais para viver aventuras no porto e na zona do meretrício de Salvador. Agora se chama Quincas Berro D'água.

Uma comédia absurda que foge da realidade e assim torna a leitura prazerosa, mas esse abraço ao cômico absurdo torna Quincas um personagem de várias camadas que pode ser aprovado por várias linhas de reflexões, ou como uma boa obra de Jorge Amado serve muito bem para entretenimento também.

Respondendo a pergunta em aberto anteriormente, muitas vezes nos vemos levando uma vida que não nos agrada ou não nos satisfaz, mas será que temos a coragem de romper com uma vida cômoda e assim morrer para uma vida que não é a que queremos para ir em busca de um sonho, de uma realização. Nessa perspectiva é necessário sermos Quincas.

Depois que morremos já não somos dono de nós mesmos, quando já não existimos mais, o mundo apresenta a imagem que para ele é bem mais confortável, por vezes ignorando o que foi feito durante a vida, por ser mais confortável para os que ficam.

O quanto nós abrimos mão de viver o que realmente queremos para viver as expectativas do mundo?

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